Direção: Ivan Cardoso
Roteiro: Rubens Francisco Luchetti
Produção: Antonio Avilez, Ivan Cardoso, Flávio Holanda,
Cláudio Klabin, Mauro Taubman
Elenco: Andrea Beltrão, Tania Boscoli, Simone Carvalho, Ariel Coelho,
Ivon Cury, Nuno Leal Maia, Lucélia Santos, Nicole Puzzi
Quatro anos depois de Ivan Cardoso adentrar ao
“terrir” nacional em O Segredo da Múmia, o diretor
novamente ataca o gênero com As
Sete Vampiras, trocando o milenar monstro enfaixado egípcio pelas
criaturas noctívagas de longos caninos e apetite por sangue. Só que pero no mucho. Na verdade As Sete Vampiras é uma verdadeira
salada mista de referências do cinema de terror que simplesmente não funcionam
como deveria. Apesar do escracho evidentemente ser o objetivo da fita, assim
como aconteceu no longa anterior, o resultado acabou saindo muito abaixo do
esperado, exatamente por errar muito na mão e focar bem mais na pornochanchada
do que na paródia de gênero propriamente dito, que funcionara tão bem em O Segredo da Múmia. Tudo é exagerado
demais, tudo é caricato demais, concordo que esse era o propósito, mas As Sete Vampiras vira um próprio
pastiche de si mesmo, que torna-se enfadonho, maçante e nem um pouco
interessante para o espectador. Tinha absolutamente tudo para ser uma versão
tupiniquim de alguma porcaria de Charles Band, principalmente em sua pobreza trash visual,
que deveria ser algo camp,
cheio de autoreferências do cinema de horror. Mas falha miseravelmente em
manter o equilíbrio entre todos esses pontos. Começa pela confusão do roteiro
de Rubens Francisco Luchetti, que escrevera O Segredo da Múmia e também foi roteirista parceiro de Mojica
a partir de O Estranho Mundo de Zé do
Caixão. Abre com um container
sendo retirado da zona portuária do Rio de Janeiro (tendo seu interior
devidamente especulado por ninguém menos que Tião “Nojeeeeeeento” Macalé) pelo
proeminente botânico Frederico Rossi (Ariel Coelho), contendo um espécime raro
de planta carnívora vinda da África, que se alimenta de carne. Na sequência,
Alfred Hitchcock em si é esculachado, apresentando o filme ao público em uma
dublagem da abertura de um dos episódios de sua famosa série Alfred
Hitchcock Apresenta. Além disso, a tema de Psicose de Bernard
Hermann é chupinada, assim como aconteceu com O Iluminado. Continuando a tonelada de referências, a planta
carnívora ao melhor estilo A Loja dos Horrores de
Roger Corman acaba atacando o botânico, em uma cena antológica da podreira trash brasileira,
digna da Empire Pictures em seu melhores (ou piores) momentos. A esposa de
Frederico, Silvia Rossi (Nicole Puzzi) também é atacada, mas sobrevive. Reclusa
e amargurada com a morte do marido, trancafia-se em sua casa até ser convidada
pelo dono de uma boate, Rogério (John Herbert) a ajuda-los nos negócios, que
vão mal das pernas. Depois de relutar, resolve aceitar o trabalho no cabaré criando
um balé chamada “As Sete Vampiras”, inspiradíssimo no jeitão Hammer de se
caracterizar o morto-vivo. Só que em paralelo a isso, misteriosos assassinatos
vêm tirando os cabelos da polícia carioca (melhor momento é quando o delegado
fala que o crime deveria ser solucionado, pois eles são a MELHOR POLÍCIA DO
MUNDO) já que as vítimas são encontradas sem uma gota de sangue. O caldo
entorna de vez quando Rogério é morto por esse terrível assassino mascarado, e
o detetive particular, Raimundo Marlou (Nuno Leal Maia) e sua assistente, Maria
(Andréa Beltrão) são contratados para ficar de olho e uma das bailarinas do
grupo, enquanto todo o elenco começa a ser morto um a um. O final ainda tem
direito a uma reviravolta até que interessante, quando você já perdeu
completamente a fé no longa. O grande problema é que a avacalhação é
geral. O descompasso da história e a autoparódia frequente atrapalham a fluidez
de se conseguir seguir pelo menos uma linha de roteiro minimamente séria, assim
como a narrativa confusa e os papéis caricatos de Zezé Macedo, Dedé Santana,
Wilson Grey, Colé Santana e do roqueiro Léo Jaime (que assina a trilha sonora do
longa com a música tema As Sete Vampiras), entre outros, que não conseguem
acrescentar absolutamente nada. Obviamente tem toneladas de garotas peladas e
nudez frontal nas mais diversas situações, encabeçadas aí pela sempre sensual
Lucélia Santos, típico do cinema brasileiro da época e da própria filmografia
de Cardoso. As Sete Vampiras é
aquele típico filme que faz muita gente detestar o cinema nacional. É um
verdadeiro desserviço ao gênero no país e um retrocesso ao próprio trabalho de
Ivan Cardoso. Porque sabemos muito bem que algo extremamente interessante pode
ser feito mesmo com precariedade técnica, de orçamento ou de elenco. Cardoso já
provou isso anteriormente e temos aí José Mojica Marins que não me deixa
mentir. Mas quando tudo é levado ao cúmulo do esculacho sem propósito, e seus
bons momentos e as referências interessantes ficam completamente soterrados, aí
fica difícil conseguir defender a classe.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/09/14/522-as-sete-vampiras-1986/
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