Direção: George A. Romero
Roteiro: George A. Romero
Produção: Richard
P. Rubinstein, David Ball (Coprodutor), Ed Lammi (Produtor Associado), Salah M.
Hassanein (Produtor Executivo)
Elenco: Lori
Cardille, Terry Alexander, Joseph Pilato, Jariath Conroy, Anthony Dileo Jr.,
Richard Liberty, Sherman Howard
Eis que depois da noite, do despertar,
e principalmente, depois do ciclo italiano de zumbis, George Romero volta aos
seus monstros mortos-vivos favoritos para concluir o que seria a sua trilogia
da hecatombe zumbi em Dia dos Mortos. Antes de analisar Dia dos Mortos é
necessário fazer uma linha do tempo do cinema zumbi desde que Romero reinventou
o terror moderno em A Noite dos
Mortos-Vivos nos anos 60. Bem sabemos que até então o zumbi era
produto de feitiçaria caribenha e só mesmo em 1968 que ele se transformou em um
cadáver ambulante canibal (trazido à vida por meio de radiação) e afastou-se da
luta de classes nas Antilhas para se tornar seu vizinho ou ente querido. Na
década seguinte, Despertar dos
Mortos mais uma vez inovou o gênero e deu início a insurreição que
vemos até hoje em filmes, seriados de TV, videogames e quadrinhos. Nesse meio
tempo entre Despertar e Dia dos Mortos (um hiato de sete
anos) eis que Lucio Fulci transformou o morto-vivo em um ser maltrapilho,
putrefato e expôs todo o potencial visceral splatter que essas criaturas míticas poderiam alcançar desde
seu Zumbi 2 – A
Volta dos Mortos(que nada mais é que inspiração rasgada de Despertar
dos Mortos). Uma infinidade de filmes de zumbis italianos surgiram na esteira
explorando cada vez mais o fetiche pelo gore e pela carne. Era um caminho sem volta que acabou por
influenciar o mestre em seu retorno retumbante. Em Dia dos Mortos, após os
acontecidos de Despertar dos Mortos a humanidade perdeu a batalha e o
mundo tornou-se um lugar inóspito tomado por zumbis. Tom Savini em seu auge
retoma a maquiagem, deixando de lado todo o ar cartunesco dos zumbis de Despertar e
mostrando-os como seres em decomposição afetados pelo tempo (como um dos
emblemáticos zumbis sem maxilar da sequência inicial). A selvageria e a
brutalidade gráfica atingem seu auge na filmografia de Romero, dando direito as
sequências mais grosseiras da trilogia, como um zumbi que “deixa cair” todos
seus órgãos internos ao se mover em uma maca, ou os terríveis ataques em seu
final quando cabeça, tronco e membros são separados de um dos soldados por uma
horda de mortos. A crítica social inerente à sobrevivência humana continua ali
escancarada, violando códigos de ética, conduta, raça e credo, mas o tom do
longa dessa vez é muito mais depressivo, soturno. Esqueça os delírios de
consumo de um shopping center só para
você. Aqui os heróis, que muito se misturam com os vilões, vivem às raias da
loucura, cercados por uma estafa mental e um descontrole emocional, como se
manter o fardo da humanidade fosse uma bomba relógio prestes a explodir. E
também há de se reparar que o começo do filme se passa exatamente na Flórida, o
ponto mais próximo dos EUA das ilhas caribenhas, mais uma volta que o ciclo do
monstro dá em torno de sua própria origem, mesmo que subentendido. Um grupo
díspar de cientistas e militares estão às turras em um bunker enterrado no
subsolo. Sarah (Lori Cardille) é a suposta mocinha da trama, que faz parte da
junta científica junto de Fisher (John Amplas) e o Dr. Logan (Richard Liberty)
mais conhecido pelo infame apelido de Dr. Frankenstein. Suas missões é tentar
entender a epidemia e possivelmente encontrar uma cura, algo que vem se
mostrando extremamente infrutífero. Enquanto Sarah e Fisher tentam buscar
resposta por meio de pesquisas, o carniceiro Dr. Logan faz todo tipo de
experimento visceral com os mortos e insiste na teoria de domesticação (leia-se
escravidão, voltando mais uma vez ao ponto alto da crítica de Romero) e tem uma
cobaia, a icônica figura do dócil zumbi Bub (Sherman Howard), que tenta
controlá-lo e fazer se lembrar de experiências de vida passada, como ouvir
música, fazer a barba e ler Stephen King, em troca de pedaços de carne humana. Do
outro lado da moeda estão os militares liderados pelo ditatorial Rhodes (Joseph
Pilato) que estão começando a ficar impacientes com seus homens sendo mortos na
busca por mais cobaias para testes, a falta de resultados concretos e está a um
passo de estourar com os cientistas, aumentando exponencialmente cada vez mais
o rastilho de pólvora enquanto eles brigam entre si sem parar. Neutros entre os
dois grupos estão John (Terry Alexander), negro espirituoso e com sotaque
carregado que mais uma vez remete ao Caribe, lar da origem do mito, único capaz
de pilotar o helicóptero e McDermott (Jariath Conroy), especialista em
comunicações. Como de praxe na obra morta-viva de Romero, o grande mal à
humanidade não são os zumbis e sim os próprios homens. Mais uma vez, como
acontecera em A Noite dos Mortos-Vivos e Despertar dos Mortos, o
que coloca tudo a perder e desestabiliza o status quo para a
catástrofe final é a mesquinharia, a intolerância e as atitudes impensadas dos
próprios homens. Enquanto em A Noite a inconsequência da explosão da
bomba de gasolina misturada ao descontrole emocional do personagem de Karl
Hardman decretam o fim do grupo e em Despertar a invasão dos
motoqueiros ao shopping é seguida pelo ataque dos zumbis, aqui em Dia o
latino Miguel (Anthony Dileo Jr.), namorado de Sarah é que em um estágio
avançadíssimo de estresse manda tudo às favas e abre os portões para que os
cadáveres invadam o complexo e façam seu banquete. Mas o mais interessante de Dia
dos Mortos, tendo em visto a gama de atitudes estúpidas humanas, é como Romero
inverte o papel do mocinho e do bandido fazendo com que simpatizemos com os
zumbis, principalmente por conta de Bub, uma vez que seus pares são
vivissecados (quer dizer, sei lá se essa palavra se aplica pois eles não estão
tecnicamente vivos), explorados, humilhados e trucidados. Chegando próximo de
sua conclusão você passa a torcer para os mortos. Mas apesar do tom pesado, de
todos os três filmes, esse é o primeiro que de fato traz uma mensagem de
esperança em seu final aberto e “feliz”, sugerindo que talvez, apesar dos
apesares, as praias do Caribe sejam a verdadeira solução para que esse ciclo se
feche. Mas para efeito imediato de conversa, Dia dos Mortos não
agradou o público e nem crítica, principalmente por sua intensa deliberação
sobre mazelas humanas e papel dos homens na antiga e nova sociedade, seu ritmo
lento e sua mensagem extremamente depressiva. Com orçamento de três milhões de
dólares, diversas dificuldades durante as filmagens pela falta de verba e por
ter sido lançado em um período em que o cinema de terror era descompromissado e
nem um pouco crítico, o longa afundou nas bilheterias faturando somente 5
milhões de dólares e tendo um resultado um pouco melhor no mercado
internacional. Fora também que naquele ano de 1985, o teor apocalíptico sem um
pingo de esperança que remetia ao cinema zumbi de Romero havia sido
completamente substituído pelos zumbis dançarinos do videoclipe de Thriller de
Michael Jackson e os comedores de miolos piadistas de A Volta dos
Mortos-Vivos de Dan O’Bannon, que ajudaram ainda mais para que o público
repudiasse o longa de Romero. O resultado catastrófico enterrou a carreira de
Romero que nunca mais conseguiu dirigir nada de relevante depois e levou quase
vinte anos até que ele finalmente voltasse ao gênero e lançasse a última parte
que completaria sua agora tetralogia, Terra dos Mortos, reaproveitando
elementos que estariam no roteiro original de Dia dos Mortos mas que
tiveram de ser cortados pela falta de verba.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/08/06/493-dia-dos-mortos-1985/
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