Direção: Dario Argento
Roteiro: Dario Argento, Franco Ferrini
Produção: Dario Argento; Mario Cecchi
Gori, Vittorio Cecchi Gori (Coprodutores); Ferdinando Caputo (Produtor
Executivo)
Elenco: Cristina Marsillach, Ian
Charleson, Urbano Barberini, Daria Nicolodi, Coralina Cataldi-Tassoni,
Antonella Vitale
Assistir a um filme de Dario Argento é
assistir a todos os filmes de Dario Argento, e Terror na Ópera é a prova cabal
disso, quer você goste ou não. E mais, essa volta ao giallo que o
consagrou com sua trilogia dos animais e Prelúdio Para Matar, é uma espécie de
compêndio de todos os elementos cinematográficos do diretor italiano nas duas
décadas anteriores e considerados por muitos como seu último grande trabalho. Quando
falo em compêndio, isso vale para o bem ou para o mal. Argento em seu projeto
mais ambicioso e de maior orçamento (que acabou se mostrando um fracasso
retumbante de público e crítica) mais uma vez coloca acima de tudo sua busca
pela estética perfeita, abusando de ângulos inusitados, cortes
abruptos, travelling ousados, câmera subjetiva emulando a visão de
assassino, testemunha e até corvos, colocando o espectador quase que sempre no
primeiro plano das ações. Em contrapartida, Terror na Ópera derrapa,
e feio, no roteiro (que convenhamos, nunca foi muito a preocupação do diretor),
com aquela mesma ladainha gialli que estamos carecas de ver em
praticamente todas as produções do gênero, com seus whodunit à la Edgar
Wallace, furos inexplicáveis no roteiro, situações pra lá de inverossímeis e um
daqueles finais rocambolescos (que obviamente envolve sexismo e trauma de
infância) onde se você prestar o mínimo de atenção já sabe quem é o assassino
na primeira vez que ele aparece na película. Isso sem mencionar a sempre
péssima direção de atores características. Então talvez esse seja o maior bode
de Terror na Ópera. Faz lá mais de dez anos queSuspira (para mim, sua
obra-prima) fora lançado e desde então, por mais que seja absolutamente do
caralho a forma com que Argento conduza suas obras do ponto de vista artesão de
se fazer cinema impecável, o uso pontual de trilha sonora (mecânica, efeitos
sonoros e a estrambólica mistura de música clássica, rock progressivo e heavy
metal) e a sempre exagerada ultraviolência que atinge o limite do impressionável
e aflitivo aqui, simplesmente você não consegue manter um linha de interesse (e
de raciocínio) em todo o longa que não seja essas imagens e sequências
maravilhosas esparsas. Escrito por Argento e Franco Ferrini, uma jovem soprano,
Betty (Cristina Marsillach, considerada pelo cineasta a atriz mais problemática
com quem já trabalhou) é escolhida para atuar na ópera Macbeth de Verdi no
lugar de uma grande atriz que se machucou (colocada na conta de uma espécie de
maldição ao redor da obra), dirigida de forma inusitada e inovadora por um
conhecido diretor de filmes de terror, Marco (Ian Charleson), inspirado no
próprio Argento. A ópera conta com efeitos especiais grandiosos e uma revoada
de corvos que vira e mexe são colocados em cena. Só que um assassino psicopata
maníaco pervertido vestido de luva preta de couro (sempre) e máscara começa a
perseguir Betty e matar impiedosamente membros da produção (e corvos,
informação muito importante uma vez que eles serão responsáveis pela descoberta
da identidade do assassino, já que segundo os roteiristas, eles são criaturas
vingativas e nunca se esquecem de quem lhes fizera mal). E por falar em “matar
impiedosamente”, esse definitivamente é o ponto alto da película para os fãs do
Argento, onde somos agraciados com brutalidade sangrenta ímpar. E não é só
isso, o sadismo do assassino da vez extrapola qualquer outro vilão
do giallo italiano, e olha que já vimos todo tipo de perversão. O
psicopata simplesmente amarra Betty e coloca esparadrapo com agulhas em suas
pálpebras para que ela não possa fechar seus olhos e assista impassível todas
as mortes aterradoras de suas vítimas. Então dá-lhe facadas, tesouradas e por
aí vai. Outra cena não menos que fantástica é quando a personagem de Daria
Nicolodi (já ex-mulher de Argento nessa altura do campeonato) está olhando pelo
buraco da fechadura e toma um tiro no olho em câmera lenta. Mas como disse lá
em cima, o problema é que a história não consegue se sustentar. Impressionante
como Betty, depois da experiência traumática de ser testemunha ocular da
primeira vítima, simplesmente NÃO CHAMA a polícia, e tem um diálogo PÉSSIMO
sobre sua frigidez com Marco no carro, como se absolutamente nada de, no mínimo
escabroso, tivesse acontecido. Toda a virtuose do diretor e sua obsessão pela
imagem consegue apenas criar uma espécie de rejeição absurda do espectador no
decorrer do filme de tão canhestro é seu desenrolar. E depois de descobrirmos o
assassino (no que chamo do “estratagema dos corvos”), suas motivações sexuais e
o suposto embate final com a mocinha que sobrevive, ainda há tempo para um
epílogo completamente desnecessário, e vou abrir espaço para um
ALERTA
DE SPOILER para comentá-lo, então volte no próximo parágrafo ou leia por
sua conta e risco.
Depois de forjar seu próprio incêndio, demora
UMA CARA para a polícia descobrir que o assassino fugiu e que um manequim, sim
um manequim, havia sido queimado em seu lugar. Na boa, plástico derretendo e
gente derretendo, você descobre no MESMO segundo a diferença. A película ainda
representa uma espécie de ponto de ruptura na carreira e vida de Argento, que
pontua o final de um ciclo estilístico do diretor, iniciado
em Suspiria (com todos os demais filmes tendo seu título original em
latim: Inferno, Tenebre, Phenomena) que ora
engendrou pelo sobrenatural, ora pelo suspense italiano. Mas infelizmente, a
obra vindoura de Argento foi para o buraco, nunca mais se encontrou até hoje, e
está aí Drácula 3D que não me deixa mentir. Então aprecie Terror
na Ópera com fervor literalmente como se fosse o último.
FONTE:
https://101horrormovies.com/2014/10/14/543-terror-na-opera-1987/
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