Em 2012, um grupo de produtores encabeçados por
Brad Miska e Roxanne Benjamin concebeu a antologia de horror V/H/S, que
teve segmentos dirigidos por Adam Wingard e Ti West, entre outros. O
diferencial deste filme foi utilizar a estética dos found footage, criando
supostos contos sobrenaturais registrados em vídeo encontrados em uma casa misteriosa.
O filme foi sucesso e obteve duas sequências ao longo dos dois anos seguintes,
sendo a segunda parte a mais aclamada. Passados dois anos desde o sucesso inicial de V/H/S,
Miska e Roxanne se reuniram mais uma vez com alguns outros produtores, incluindo
aí Chris Harding, Radio Silence e Greg Newman, para criar Southbound,
uma nova antologia de horror. Em produção desde 2014 e abandonando a ideia das
fitas encontradas, este novo filme tem como foco os acontecimentos macabros que
se passam em uma rodovia nos Estados Unidos. Southbound apresenta um total de
cinco segmentos, ou contos, que exploram diferentes formas do mal se
manifestando na vida de algumas pessoas aparentemente comuns e sem ligação
entre si, que tiveram a infelicidade de ir parar naquela rodovia. O segmento
que abre o longa se chama The Way Out e foi escrito e dirigido por
integrantes do Radio Silence, um coletivo composto por quatro cineastas
que também trabalharam em V/H/S. O conto acompanha dois homens em fuga que
são constantemente perseguidos por estranhos seres. The Way Out não
tem o menor medo de abraçar seu lado sobrenatural e não se preocupa em dar
explicações simplórias. Estabelecida a atmosfera e a sensação de perigo, o que
resta é observar a aproximação do mal. Se existe algo que falta no horror
atualmente são criaturas e entidades malignas visualmente interessantes, que
fogem do padrão do assassino mascarado, da mulher possuída ou do fantasma. O
maior mérito de The Way Out é oferecer algo nesse sentido, uma forma
maligna diferente do convencional, mas que ainda é familiar o suficiente para
ser cool. O encerramento do primeiro segmento imediatamente se conecta com
a segunda parte, quando nos é apresentado uma banda em viagem, composta por
três amigas. Esse é o segmento mais “feminino” da história, no sentido de ser
escrito, dirigido e protagonizado por mulheres. Roxanne Benjamin é a grande
mente por trás de Siren, conto que mostra três amigas viajando em turnê e
que por obra do destino se veem hospedadas na casa de uma família no mínimo bizarra.
Esse é uma das partes mais bem amarradas e construídas de todo o filme, além de
apresentar um conceito que funcionaria muito bem em um longa-metragem. Mais uma
vez o final e o começo dos segmentos se misturam completamente. Continuação
direta de Siren, The Accident muda o foco central e leva o
espectador na jornada mais sombria e intensa de todo o filme. Após atropelar
uma jovem mulher, um homem desesperado resolve leva-la ao hospital mais
próximo, enquanto é auxiliado por uma telefonista. A jornada para salvar a vida
da mulher se prova completamente insana e surreal. Escrito e dirigido por David
Bruckner,The Accident é criativo, bem escrito e super atmosférico,
definitivamente o melhor que Southbound tem a oferecer. Uma característica
quase inerente das antologias é a inconsistência do filme como um todo. Ao
misturar diferentes temas e diferentes visões dentro da mesma obra, é difícil
obter um resultado totalmente coeso. Com exceção talvez das duas grandes
maiores antologias do horror, Kwaidane As Três Máscaras do Terror,
praticamente todas as antologias oscilam em qualidade. Não seria diferente com Southbound.
A conexão feita entre The Accident e o segmento seguinte, Jailbreak,
é um bocado forçada e quebra a fluidez do filme tão bem desenvolvida até então.
O próprio segmento que foi dirigido por Patrick Horvath é uma bagunça só. Um
homem invade um bar apontando uma arma para os presentes e demandando que estes
o levem até sua irmã, desaparecida há anos. Existem alguns elementos
sobrenaturais presentes ao longo do conto, mas nenhum deles é explorado de
forma realmente interessante. O resultado é um desperdício de potencial e o
“elo fraco” do longa. O último segmento The Way In, também dirigido pelo
coletivo Radio Silence, retorna ao começo do filme, mostrando
acontecimentos anteriores aos de The Way Out. Enquanto a primeira parte se
passava na rodovia, explorando o local com maestria, este último segmento se
passa quase que inteiramente dentro de uma casa, o que definitivamente tirou um
pouco do impacto. Mas, aquele elemento sobrenatural citado lá no começo desta
análise, retorna com força total aqui, respondendo à algumas questões que foram
levantadas logo no começo do filme. O resultado final de Southbound é
definitivamente acima da média, com certeza terá lugar de destaque entre os
grandes filmes de terror de 2016, além de ser uma antologia digna de nota. Como
praticamente todos os filmes do tipo, a experiência oscila, mas bem pouco se
comparada a outras obras do tipo. Vale a pena mencionar que Southbound
apresenta um mal todo-poderoso e não tenta de forma alguma dar explicações
fáceis, deixando bastante coisa por conta da imaginação do espectador.
FONTE: https://101horrormovies.com/2016/02/26/review-2016-11-southbound/
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