domingo, 27 de março de 2016

#537 1987 OS OLHOS DA CIDADE SÃO MEUS (Angustia / Anguish, Espanha)


Direção: Bigas Luna
Roteiro: Bigas Luna
Produção: Pepón Coromina; Xavier Visa (Produtor Associado); George Ayoub, Andreu Coromina (Produtores Executivos)
Elenco: Zelda Rubinstein, Michael Lerner, Talia Paul, Angel Jové, Clara Pastor, Isabel García Lorca

O espanhol Os Olhos da Cidade São Meus (e por que Jeová ele não manteve o título original, Angústia, aqui no Brasil e surgiu mais essa bizarrice?), dirigido por Bigas Luna, é um excelentíssimo exercício de terror, suspense e metalinguagem. Na real ele é metalinguístico até a medula, só que você não se dá conta disso até a metade do filme, quando o espectador tem um verdadeiro choque e pensa: “opa, mas esse filme é ainda mais interessante do que eu pensava”. Pelo menos essa foi minha conclusão quando o assisti pela primeira vez, de forma tardia, quando lançado em DVD pelo selo Dark Side da Works Editora, lá em meados da década passada. E já estava gostando MUITO da película. Começa pela atenção prendida por aquele velho truque marqueteiro do cinema de dizer que o filme tem cenas fortes, podem impressionar e atormentar o público, sendo que no saguão do cinema há enfermeiros para ajudar. A trama, escrita pelo diretor, é simples, didática e direta ao ponto. Logo na primeira cena já vemos muito bem os desvios psicológicos dos dois personagens principais muito bem delineados: a Sra. Pressman (vivida pela excepcional Zelda Rubinstein, que você deve conhecer mais como Tagina de Poltergeist – O Fenômeno) e seu filho John (Michael Lerner). Aquela típica relação doentia entre mãe controladora e filho submisso está presente, mas aqui ele é levado um patamar superior. John trabalha como auxiliar de oftalmologista, porém é diabético e está perdendo a visão (além de ser muito sensível a esse assunto). Uma paciente reclama de uma lente de contato, humilhando o rapaz e fazendo com que ele seja repreendido no hospital que trabalha. Ao desabafar para a mamãe, descobrimos que a velha é uma LOUCA DE PEDRA que hipnotiza o próprio filho para que ele saia pela cidade coletando olhos humanos para sua bizarríssima coleção. Primeiro ele parte em busca dos globos oculares da mulher que reclamou dele, matando-a, assim como seu marido, retirando os órgãos com um bisturi. Até aí o filme já está ótimo, com uma cena bem sangrenta e aflitiva do olho sendo arrancado, como uma espécie de toque gore ao Um Cão Andaluz de Buñuel. Mas para a surpresa do espectador a cena começa a afastar e BINGO! Estamos no cinema e aquilo nada mais é que um filme chamado “The Mommy”, dirigido por um tal Sanul Agib (anagrama com o nome do diretor, Biga Lunas). Sim, é isso mesmo, estamos vendo um filme dentro de um filme. Olha a metalinguagem aí. Então em paralelo a história de John e sua mãe, temos o desenrolar de uma subtrama (ou trama principal?) na sala de exibição, onde a jovem Patty (Talia Paul) está sentindo-se nervosa e incomodada com o teor sugestivo da película e começa a ficar paranoica, achando que um sujeito qualquer na plateia é o assassino. Pois bem, John Pressman, hipnotizado pela megera, invade um cinema e começa a arrancar os olhos dos espectadores, o que vai criar um pânico generalizado. Eis que realidade e ficção (dentro da ficção) se misturam e influenciado pelo teor do filme, um maluco no cinema (Ángel Jové) com os mesmos problemas psicológicos e controle maternal resolve também começar a matar gente dentro do local. Tudo acaba convergindo para uma cena em que ambos fazem uma pessoa como refém (no caso aqui a Patty que teve razão em desconfiar do sujeito desde o começo) e seu final, mostrando o quanto a moça também acabou afetada com a projeção e abrindo aquela velha discussão de quanto um filme pode mesmo ser influenciador de comportamento ou gatilho para alguma psicose (na hora me veio o paralelo com o sujeito que entrou abrindo fogo com uma Uzi no cinema do Shopping Morumbi após assistir Clube da Luta). Tudo isso já seria o suficiente para ser um ótimo filme, mas ainda há as cenas de hipnose que são verdadeiramente perturbadoras e até nauseantes. A Sra. Pressman utiliza todos os artifícios possíveis para a lavagem cerebral no filho, como: espirais, pêndulos, luzes, ecos, efeitos sonoros e até caracóis, filmado em close para também deixar o espectador baratinado. A cena final também é incrível, mas não entrarei em detalhes aqui e nem farei nenhum SPOILER. E claro, fique até o final dos créditos, que irá explodir sua mente (não, não terá nenhuma cena de Os Vingadores 2: A Era de Ultron). Então se quer uma dica de um filme de terror redondo e fora dos padrões convencionais do que se vinha fazendo na época, Os Olhos da Cidade são Meus é a pedida.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/04/537-os-olhos-da-cidade-sao-meus-1987/

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