Direção: Bigas Luna
Roteiro: Bigas Luna
Produção: Pepón Coromina; Xavier Visa (Produtor
Associado); George Ayoub, Andreu Coromina (Produtores Executivos)
Elenco: Zelda Rubinstein, Michael Lerner, Talia
Paul, Angel Jové, Clara Pastor, Isabel García Lorca
O espanhol Os Olhos da
Cidade São Meus (e
por que Jeová ele não manteve o título original, Angústia, aqui no Brasil e
surgiu mais essa bizarrice?), dirigido por Bigas Luna, é um excelentíssimo
exercício de terror, suspense e metalinguagem. Na real ele é metalinguístico
até a medula, só que você não se dá conta disso até a metade do filme, quando o
espectador tem um verdadeiro choque e pensa: “opa, mas esse filme é ainda mais
interessante do que eu pensava”. Pelo menos essa foi minha conclusão quando o
assisti pela primeira vez, de forma tardia, quando lançado em DVD pelo selo
Dark Side da Works Editora, lá em meados da década passada. E já estava
gostando MUITO da película. Começa pela atenção prendida por aquele velho
truque marqueteiro do cinema de dizer que o filme tem cenas fortes, podem
impressionar e atormentar o público, sendo que no saguão do cinema há
enfermeiros para ajudar. A trama, escrita pelo diretor, é simples, didática e
direta ao ponto. Logo na primeira cena já vemos muito bem os desvios
psicológicos dos dois personagens principais muito bem delineados: a Sra.
Pressman (vivida pela excepcional Zelda Rubinstein, que você deve conhecer mais
como Tagina de Poltergeist – O Fenômeno) e seu filho
John (Michael Lerner). Aquela típica relação doentia entre mãe controladora e
filho submisso está presente, mas aqui ele é levado um patamar superior. John
trabalha como auxiliar de oftalmologista, porém é diabético e está perdendo a
visão (além de ser muito sensível a esse assunto). Uma paciente reclama de uma
lente de contato, humilhando o rapaz e fazendo com que ele seja repreendido no
hospital que trabalha. Ao desabafar para a mamãe, descobrimos que a velha é uma
LOUCA DE PEDRA que hipnotiza o próprio filho para que ele saia pela cidade
coletando olhos humanos para sua bizarríssima coleção. Primeiro ele parte em
busca dos globos oculares da mulher que reclamou dele, matando-a, assim como
seu marido, retirando os órgãos com um bisturi. Até aí o filme já está ótimo,
com uma cena bem sangrenta e aflitiva do olho sendo arrancado, como uma espécie
de toque gore ao Um Cão Andaluz de Buñuel.
Mas para a surpresa do espectador a cena começa a afastar e BINGO! Estamos no
cinema e aquilo nada mais é que um filme chamado “The Mommy”, dirigido por um
tal Sanul Agib (anagrama com o nome do diretor, Biga Lunas). Sim, é isso mesmo,
estamos vendo um filme dentro de um filme. Olha a metalinguagem aí. Então em
paralelo a história de John e sua mãe, temos o desenrolar de uma subtrama (ou
trama principal?) na sala de exibição, onde a jovem Patty (Talia Paul) está
sentindo-se nervosa e incomodada com o teor sugestivo da película e começa a
ficar paranoica, achando que um sujeito qualquer na plateia é o assassino. Pois
bem, John Pressman, hipnotizado pela megera, invade um cinema e começa a
arrancar os olhos dos espectadores, o que vai criar um pânico generalizado. Eis
que realidade e ficção (dentro da ficção) se misturam e influenciado pelo teor
do filme, um maluco no cinema (Ángel Jové) com os mesmos problemas psicológicos
e controle maternal resolve também começar a matar gente dentro do local. Tudo
acaba convergindo para uma cena em que ambos fazem uma pessoa como refém (no
caso aqui a Patty que teve razão em desconfiar do sujeito desde o começo) e seu
final, mostrando o quanto a moça também acabou afetada com a projeção e abrindo
aquela velha discussão de quanto um filme pode mesmo ser influenciador de
comportamento ou gatilho para alguma psicose (na hora me veio o paralelo com o
sujeito que entrou abrindo fogo com uma Uzi no cinema do Shopping Morumbi após
assistir Clube da Luta). Tudo
isso já seria o suficiente para ser um ótimo filme, mas ainda há as cenas de
hipnose que são verdadeiramente perturbadoras e até nauseantes. A Sra. Pressman
utiliza todos os artifícios possíveis para a lavagem cerebral no filho, como:
espirais, pêndulos, luzes, ecos, efeitos sonoros e até caracóis, filmado em
close para também deixar o espectador baratinado. A cena final também é
incrível, mas não entrarei em detalhes aqui e nem farei nenhum SPOILER. E claro, fique até o final
dos créditos, que irá explodir sua mente (não, não terá nenhuma cena de Os Vingadores 2: A Era de Ultron).
Então se quer uma dica de um filme de terror redondo e fora dos padrões
convencionais do que se vinha fazendo na época, Os Olhos da Cidade são Meus é a pedida.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/04/537-os-olhos-da-cidade-sao-meus-1987/
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