Direção: Stephen
King
Roteiro: Stephen
King (baseado em seu conto)
Produção: Martha
Schumacher, Milton Subotsky (Coprodutor), Don Levin, Mel Pearl e Dino de
Laurentiis (Produtor Executivo)
Elenco: Emilio Estevez, Pat Hingle, Laura
Harrington, Yeardley Smith, John Short, Ellen McElduff
Stephen King decidiu dirigir Comboio do Terror porque gostaria de ver os seus filmes feitos
corretamente no cinema. É de conhecimento público que King simplesmente
DETESTOU a adaptação de O Iluminado de Stanely Kubrick, por
exemplo. Então baseado na premissa do “se quiser fazer algo bem feito, faça
você mesmo”, lá foi o escritor sentar na cadeira de diretor e o resultado foi
esse aborto da natureza cinematográfico. A começar pela trama, você já percebe
que a coisa não daria muito certo de jeito nenhum. Naquele período dos anos 80
em que rolava a febre do Cometa Haley, um cometa passou pela Terra e o planeta
ficou durante sete dias envolvido em sua cauda, o que fez com que todos (quer
dizer, quase todos, sabe-se lá porquê) os equipamentos eletrônicas ganharam
vida e um impulso homicida. Tosco não é? Mas sabe o que é o mais
impressionante? O conto, chamado “Caminhões”, publicado na coletânea “Sombras
da Noite”, é ótimo! Mas é um conto, deve ter sei lá, 30 páginas. Transformá-lo
em um longa metragem de mais de uma hora e meia resultou em uma verdadeira
bomba e um martírio para o público assistir. Afinal, por mais que seja um
filme trash assumido,
ele se leva muuuuuuito a sério, e somado a isso o fato de King como diretor ser
um excelente escritor, estar chapado de cocaína durante as filmagens, sem a
menor ideia do que estava fazendo (como o próprio admitiu futuramente), as
atuações serem péssimas, a construção dos personagens (e até os nuances e
desdobramentos da trama em si) serem risíveis e o desenrolar entediante (sem
contar o final chumbrega), Comboio do Terror é
tudo de ruim e foi um fracasso retumbante de público e crítica. Logo no começo,
ao som do AC/DC, banda escolhida pessoalmente por King para compor a trilha
sonora da produção, as máquinas começam a demonstrar seu descontrole e o
próprio escritor/roteirista/diretor faz uma ponta sendo chamado de idiota por
um caixa eletrônico. Esse é o grande momento do filme, pois é a atitude mais
verdadeira e acertada de todo o longa. Depois o maquinário pira causando um
baita acidente entre carros e caminhões em uma ponte levadiça, uma máquina de
refrigerantes atira latinhas como se fosse um canhão, uma faca elétrica corta o
braço de uma garçonete e um cortador de gramas sai por aí aparando pessoas. O
núcleo de “pessoas normais em uma situação limítrofe lutando por suas vidas”
tão comum na obra de King se concentram no Dixie Boy, uma parada de caminhões
gerida pelo escroto Bubba Hendershot (Pat Hingle), cujo cozinheiro é o
ex-presidiário Bill Robinson (Emilio Estevez, filho de Martin Sheen que já
havia atuado em duas outras adaptações de King produzidas por Dino de
Laurentiis: A Hora da Zona Morta e Chamas da Vingança). Um comboio de caminhões
liderado por um Fenemê gigante da Happy Toyz, que tem um gigante rosto do
Duende Verde em sua frente faz os humanos de reféns dentro do recinto e começam
a ameaçar o grupo díspar, o qual ainda se juntaria uma caronista, Brett (Laura
Harrington) que rapidão vira o par romântico do personagem de Estevez e até
mandam a situação cabreira às favas para dar uma trepada e ficar vendo o efeito
atmosférico causado pela cauda do cometa que transformou o céu em verde em um
interlúdio romântico dos mais cafonas possíveis, e os recém-casados Curtis (que
de babaca se torna um Ash em potencial) e Connie (a insuportável que só grita e
choraminga), respectivamente John Short e Yeardley Smith (que três anos mais
tarde daria pela primeira vez a voz à Lisa Simpson e o resto é história). Só
que o maior motivo por Comboio do Terror andar de marcha ré (RÁ, que infame)
são as situações estapafúrdias. Primeiro que o tal Henderson tem em seu porão
um verdadeiro arsenal do exército. O sujeito tem até uns javelins que disparam
mísseis nos caminhões. Outra coisa que incomoda qualquer espectador que tenha
mais de dois neurônios é por que diabos só aqueles caminhões estão possuídos pela
força do cometa e os carros com que o casal e Brett e o vendedor de bíblia
chegaram ao posto, não? E mais, porque depois de causar alvoroço, atacar a
garçonete e até as máquinas de fliperama matar um sujeito, todos os eletrônicos
de dentro do Dixie Boy voltaram às suas funções normais? Agora sem dúvida um
dos momentos mais vergonha alheia de King e sua trupe é quando um jipe do
exército aparece metralhando tudo e emite uma mensagem buzinando em código
Morse. Felizmente um garoto que sabe código Morse (???!!!!) aparece no Dixie
Boy pouco antes e consegue decifrá-la. Como os caminhões fatalmente estavam
ficando sem combustível depois de rodarem sem parar em volta do local, o jipe
ordena que os humanos os abasteçam e nenhum deles será ferido. Agora caso o contrário,
todos irão morrer. E toda a frota de caminhões dos EUA começa a chegar para ter
seus tanques cheios. Até que finalmente toda aquela situação dá no saco dos
mocinhos e armados até os dentes, eles resolvem fugir por suas vidas em direção
a uma ilha que não tenha caminhões. Olhe, Stephen King tem adaptações de suas
obras para as telas que são um lixo, mas acredito que essa seja a pior de
todas. Talvez só quem seja muito fã xiita do escritor e sei lá, curtia o Clube
Irmão Caminhoneiro Shell nas manhãs do SBT, devem gostar dessa bagaceira. E
termino essa resenha com a resposta do próprio mestre, ao ser indagado do por
que nunca mais ter dirigido nenhum filme: “Assista Comboio do Terror e
você entenderá”.
FONTE:
https://101horrormovies.com/2014/08/23/506-comboio-do-terror-1986/
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