terça-feira, 8 de março de 2016

#506 1986 COMBOIO DO TERROR (Maximum Overdrive, EUA)


Direção: Stephen King
Roteiro: Stephen King (baseado em seu conto)
Produção: Martha Schumacher, Milton Subotsky (Coprodutor), Don Levin, Mel Pearl e Dino de Laurentiis (Produtor Executivo)
Elenco: Emilio Estevez, Pat Hingle, Laura Harrington, Yeardley Smith, John Short, Ellen McElduff

Stephen King decidiu dirigir Comboio do Terror porque gostaria de ver os seus filmes feitos corretamente no cinema. É de conhecimento público que King simplesmente DETESTOU a adaptação de O Iluminado de Stanely Kubrick, por exemplo. Então baseado na premissa do “se quiser fazer algo bem feito, faça você mesmo”, lá foi o escritor sentar na cadeira de diretor e o resultado foi esse aborto da natureza cinematográfico. A começar pela trama, você já percebe que a coisa não daria muito certo de jeito nenhum. Naquele período dos anos 80 em que rolava a febre do Cometa Haley, um cometa passou pela Terra e o planeta ficou durante sete dias envolvido em sua cauda, o que fez com que todos (quer dizer, quase todos, sabe-se lá porquê) os equipamentos eletrônicas ganharam vida e um impulso homicida. Tosco não é? Mas sabe o que é o mais impressionante? O conto, chamado “Caminhões”, publicado na coletânea “Sombras da Noite”, é ótimo! Mas é um conto, deve ter sei lá, 30 páginas. Transformá-lo em um longa metragem de mais de uma hora e meia resultou em uma verdadeira bomba e um martírio para o público assistir. Afinal, por mais que seja um filme trash assumido, ele se leva muuuuuuito a sério, e somado a isso o fato de King como diretor ser um excelente escritor, estar chapado de cocaína durante as filmagens, sem a menor ideia do que estava fazendo (como o próprio admitiu futuramente), as atuações serem péssimas, a construção dos personagens (e até os nuances e desdobramentos da trama em si) serem risíveis e o desenrolar entediante (sem contar o final chumbrega), Comboio do Terror é tudo de ruim e foi um fracasso retumbante de público e crítica. Logo no começo, ao som do AC/DC, banda escolhida pessoalmente por King para compor a trilha sonora da produção, as máquinas começam a demonstrar seu descontrole e o próprio escritor/roteirista/diretor faz uma ponta sendo chamado de idiota por um caixa eletrônico. Esse é o grande momento do filme, pois é a atitude mais verdadeira e acertada de todo o longa. Depois o maquinário pira causando um baita acidente entre carros e caminhões em uma ponte levadiça, uma máquina de refrigerantes atira latinhas como se fosse um canhão, uma faca elétrica corta o braço de uma garçonete e um cortador de gramas sai por aí aparando pessoas. O núcleo de “pessoas normais em uma situação limítrofe lutando por suas vidas” tão comum na obra de King se concentram no Dixie Boy, uma parada de caminhões gerida pelo escroto Bubba Hendershot (Pat Hingle), cujo cozinheiro é o ex-presidiário Bill Robinson (Emilio Estevez, filho de Martin Sheen que já havia atuado em duas outras adaptações de King produzidas por Dino de Laurentiis: A Hora da Zona Morta e Chamas da Vingança). Um comboio de caminhões liderado por um Fenemê gigante da Happy Toyz, que tem um gigante rosto do Duende Verde em sua frente faz os humanos de reféns dentro do recinto e começam a ameaçar o grupo díspar, o qual ainda se juntaria uma caronista, Brett (Laura Harrington) que rapidão vira o par romântico do personagem de Estevez e até mandam a situação cabreira às favas para dar uma trepada e ficar vendo o efeito atmosférico causado pela cauda do cometa que transformou o céu em verde em um interlúdio romântico dos mais cafonas possíveis, e os recém-casados Curtis (que de babaca se torna um Ash em potencial) e Connie (a insuportável que só grita e choraminga), respectivamente John Short e Yeardley Smith (que três anos mais tarde daria pela primeira vez a voz à Lisa Simpson e o resto é história). Só que o maior motivo por Comboio do Terror andar de marcha ré (RÁ, que infame) são as situações estapafúrdias. Primeiro que o tal Henderson tem em seu porão um verdadeiro arsenal do exército. O sujeito tem até uns javelins que disparam mísseis nos caminhões. Outra coisa que incomoda qualquer espectador que tenha mais de dois neurônios é por que diabos só aqueles caminhões estão possuídos pela força do cometa e os carros com que o casal e Brett e o vendedor de bíblia chegaram ao posto, não? E mais, porque depois de causar alvoroço, atacar a garçonete e até as máquinas de fliperama matar um sujeito, todos os eletrônicos de dentro do Dixie Boy voltaram às suas funções normais? Agora sem dúvida um dos momentos mais vergonha alheia de King e sua trupe é quando um jipe do exército aparece metralhando tudo e emite uma mensagem buzinando em código Morse. Felizmente um garoto que sabe código Morse (???!!!!) aparece no Dixie Boy pouco antes e consegue decifrá-la. Como os caminhões fatalmente estavam ficando sem combustível depois de rodarem sem parar em volta do local, o jipe ordena que os humanos os abasteçam e nenhum deles será ferido. Agora caso o contrário, todos irão morrer. E toda a frota de caminhões dos EUA começa a chegar para ter seus tanques cheios. Até que finalmente toda aquela situação dá no saco dos mocinhos e armados até os dentes, eles resolvem fugir por suas vidas em direção a uma ilha que não tenha caminhões. Olhe, Stephen King tem adaptações de suas obras para as telas que são um lixo, mas acredito que essa seja a pior de todas. Talvez só quem seja muito fã xiita do escritor e sei lá, curtia o Clube Irmão Caminhoneiro Shell nas manhãs do SBT, devem gostar dessa bagaceira. E termino essa resenha com a resposta do próprio mestre, ao ser indagado do por que nunca mais ter dirigido nenhum filme: “Assista Comboio do Terror e você entenderá”.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/08/23/506-comboio-do-terror-1986/

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