Direção: Tobe Hooper
Roteiro: L.M. Kit Carson
Produção: Yoram Globus, Menahem Golan; Tobe Hooper (Coprodutor); L.M. Kit Carson
(Produtor Associado); Henry Holmes, James Jorgensen (Produtor Executivo)
Elenco: Dennis Hopper, Caroline Williams, Jim
Siedow, Bill Moseley, Bill Johnson, Ken Everet, Lou Perryman
Você é o sujeito que dirige um dos filmes mais
importantes da história do terror. Sua película faz um baita sucesso, torna-se
cultuada, ajuda a enterrar de vez o american way of life no
cinema e traz às telas um terror real, palatável, filmado de forma crua,
visceral e quase documental sobre uma família de canibais, criando um
personagem icônico que se tornaria um dos principais movie maniacs de
todos os tempos, baseado em um dos mais cruéis serial killers americanos. Depois disso sua carreira torna-se
completamente irregular, você nunca mais consegue alcançar o status que aquele filme lhe lançou, e
suas duas últimas mega produções foram fracassos retumbantes de bilheteria
(sendo que a penúltima você foi uma marionete de Steven Spielberg). Para tentar
uma segunda chance na vida, você resolve fazer uma sequência de seu clássico. E
consegue falhar miseravelmente em todos os sentidos. Essa é sua vida Tobe
Hooper. O
Massacre da Serra Elétrica 2 é simplesmente uma vergonha alheia em
altíssimo nível. O diretor consegue pegar todos os elementos que acertou em
cheio no seminal O Massacre da
Serra Elétrica, lançado em 1974 e jogar na descarga em uma das piores
continuações do gênero. Transforma todo o terror e aquela sensação incomoda e
suja em um pastiche, uma caricatura de si mesmo, repleto de humor negro
pessimamente executado, uma direção de arte canhestra, uma fotografia que
lembra a paleta de cores de Batman & Robin de Joel Schumacher e um roteiro
risível. Fato é que nos anos 80, o cinema de terror parou de se levar a sério
(claro que com suas exceções) e o “terrir” ganhou espaço de produções sóbrias e
mais pesadas como o próprio O Massacre da Serra Elétrica, Aniversário Macabro de Wes Craven e todo
o exploitation comum aos anos 70. Em seu lugar, o gênero foi
tomado por slashers, splatisticks e personagens
irônicos e engraçadinhos em situações absurdas. Então O Massacre da Serra Elétrica 2 infelizmente
acabou caindo nessa vala comum e transformou algo transgressor em exagero. Hooper
e o roteirista L.M. Kit Carson, amparados pela Cannon Pictures dos picaretas
Yoram Globus e Menahem Golan (produtores das duas últimas bombas do diretor, Força Sinistra e Invasores
de Marte)
conseguiram o impossível, e transformaram Leatherface e seus familiares
desequilibrados em um bando de sujeitos cartunescos, tirando todo o sadismo, a
sujeira, a psicose assassina de uma família canibal e de seu caçula que costura
e veste máscaras feita das peles de suas vítimas, tornando-os completamente
idiotas. É impressionante como tudo deu errado em O Massacre da Serra Elétrica 2. Quer dizer, se há algo que se
salve, é a maquiagem de Tom Savini, afinal se no original foram gastos parcos 83
mil dólares (o que tornou o filme independente ainda mais impactante), aqui o
orçamento foi um desbunde de mais de quatro milhões. Mas todo o resto é
execrável. Além do desenvolvimento dos personagens e seu excesso de escracho, o
que mais chama atenção é o abuso de cores, do rosa, do vermelho, e a completa
ausência daquele ambiente miserável cheio de ossos, dentes, pele e carne
pendurada em uma velha casa abandonada, para o covil dos canibais ser
transformado em uma caverna de uma atração turística. A trama não poderia ser
mais pífia. Dois patetas estão dirigindo em direção ao Texas para um final de
semana de um jogo de futebol americano quando ligam para uma rádio local para
passar um trote para a DJ, Vanita “Stretch” Brock (Caroline Williams). Entre atirar
em placas de trânsito, se drogar e fechar o carro dos caipiras, eles acabam se
metendo com a família errada, e perseguidos em plena estrada por Leatherface,
que corta metade do cocuruto de um deles fora, provocando um acidente, tudo
enquanto estão ao vivo no programa de rádio e o ocorrido é gravado em fita K7. Na
cena do acidente somos apresentados ao tenente “Lefty” Enright, vivido por
Dennis Hopper (segundo ele, no pior filme em que esteve). O texano de chapéu é
tio do paralítico Franklin, vítima no original, e passou os últimos 12 anos
tentando juntar pistas do assassinato do cadeirante, ligando a outras mortes
praticadas por serra elétrica no glorioso estado. Uma dupla improvável entre
Stretch e Lefty se forma e ao tocar a fita no seu programa de rádio, ela atrai
os psicopatas antropófagos em seu encalço. Stretch consegue ludibriar
Leatheface, interpretado por Bill Johnson (onde descobrimos que seu nome é
Bubba) fazendo o de trouxa e tratando-o como um cãozinho, e depois segue os
meliantes, que mataram seu companheiro de estação, LG (Lou Peryman), até seu
esconderijo, com a volta do tresloucado Chop-Top (Bill Moseley) e do patriarca,
Drayton (Jim Siedow – único que retorna ao papel). Lefty, munido de três serras
elétricas também parte que nem uma vaca louca para o esconderijo na tentativa
de salvá-la, vingar seu sobrinho e colocar aquele antro de perversidade abaixo.
O que se segue é esteticamente patético. Um dos ápices do nervosismo e da
tortura psicológica do primeiro filme, a fatídica cena do jantar, com o vovô
mumificado tentando acertar a cabeça da desesperada personagem de Marilyn Burns
com um martelo para ser servida de prato principal, foi copiada e transformada
em um circo patético de dar pena. Ainda assim, seguindo os passos do
antecessor, graças ao excelente trabalho de Savini (principalmente na única
cena macabra, quando Stretch encontra LG parcialmente escalpelado), O Massacre da Serra Elétrica 2 foi
banido em diversos países, como Reino Unido (onde o BBFC queria cortar 25
minutos da película, o que fez com que a Cannon desistisse de seu lançamento),
Alemanha Ocidental, Cingapura e Austrália (que pasmem, só teve a versão uncut lançada VINTE anos
depois). Aqui no Brasil lembro claramente do registro eterno em minha memória
da fita VHS da América Video (distribuidora dos petardos da Cannon aqui em
terras tupiniquins) com seus encartes azuis na prateleira, e aquela pose
esdrúxula (a mesma do pôster original) da família Sawyer emulando o cartaz de Clube dos Cinco. Pelo menos, ao
inverso do que escrevi sobre Aliens
– O Resgate, O Massacre
da Serra Elétrica 2 também serve como uma aula de cinema, mas dessa
vez sobre tudo o que não deve se fazer em uma sequência para estragar
completamente o original. Viu, Seu Tobe Hooper?
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/09/04/514-o-massacre-da-serra-eletrica-2-1986/
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