quarta-feira, 16 de março de 2016

#514 1986 O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA 2 (The Texas Chainsaw Massacre 2, EUA)


Direção: Tobe Hooper
Roteiro: L.M. Kit Carson
Produção: Yoram Globus, Menahem Golan; Tobe Hooper (Coprodutor); L.M. Kit Carson (Produtor Associado); Henry Holmes, James Jorgensen (Produtor Executivo)
Elenco: Dennis Hopper, Caroline Williams, Jim Siedow, Bill Moseley, Bill Johnson, Ken Everet, Lou Perryman

Você é o sujeito que dirige um dos filmes mais importantes da história do terror. Sua película faz um baita sucesso, torna-se cultuada, ajuda a enterrar de vez o american way of life no cinema e traz às telas um terror real, palatável, filmado de forma crua, visceral e quase documental sobre uma família de canibais, criando um personagem icônico que se tornaria um dos principais movie maniacs de todos os tempos, baseado em um dos mais cruéis serial killers americanos. Depois disso sua carreira torna-se completamente irregular, você nunca mais consegue alcançar o status que aquele filme lhe lançou, e suas duas últimas mega produções foram fracassos retumbantes de bilheteria (sendo que a penúltima você foi uma marionete de Steven Spielberg). Para tentar uma segunda chance na vida, você resolve fazer uma sequência de seu clássico. E consegue falhar miseravelmente em todos os sentidos. Essa é sua vida Tobe Hooper. O Massacre da Serra Elétrica 2 é simplesmente uma vergonha alheia em altíssimo nível. O diretor consegue pegar todos os elementos que acertou em cheio no seminal O Massacre da Serra Elétrica, lançado em 1974 e jogar na descarga em uma das piores continuações do gênero. Transforma todo o terror e aquela sensação incomoda e suja em um pastiche, uma caricatura de si mesmo, repleto de humor negro pessimamente executado, uma direção de arte canhestra, uma fotografia que lembra a paleta de cores de Batman & Robin de Joel Schumacher e um roteiro risível. Fato é que nos anos 80, o cinema de terror parou de se levar a sério (claro que com suas exceções) e o “terrir” ganhou espaço de produções sóbrias e mais pesadas como o próprio O Massacre da Serra Elétrica, Aniversário Macabro de Wes Craven e todo o exploitation comum aos anos 70. Em seu lugar, o gênero foi tomado por slashers, splatisticks e personagens irônicos e engraçadinhos em situações absurdas. Então O Massacre da Serra Elétrica 2 infelizmente acabou caindo nessa vala comum e transformou algo transgressor em exagero. Hooper e o roteirista L.M. Kit Carson, amparados pela Cannon Pictures dos picaretas Yoram Globus e Menahem Golan (produtores das duas últimas bombas do diretor, Força Sinistra e Invasores de Marte) conseguiram o impossível, e transformaram Leatherface e seus familiares desequilibrados em um bando de sujeitos cartunescos, tirando todo o sadismo, a sujeira, a psicose assassina de uma família canibal e de seu caçula que costura e veste máscaras feita das peles de suas vítimas, tornando-os completamente idiotas. É impressionante como tudo deu errado em O Massacre da Serra Elétrica 2. Quer dizer, se há algo que se salve, é a maquiagem de Tom Savini, afinal se no original foram gastos parcos 83 mil dólares (o que tornou o filme independente ainda mais impactante), aqui o orçamento foi um desbunde de mais de quatro milhões. Mas todo o resto é execrável. Além do desenvolvimento dos personagens e seu excesso de escracho, o que mais chama atenção é o abuso de cores, do rosa, do vermelho, e a completa ausência daquele ambiente miserável cheio de ossos, dentes, pele e carne pendurada em uma velha casa abandonada, para o covil dos canibais ser transformado em uma caverna de uma atração turística. A trama não poderia ser mais pífia. Dois patetas estão dirigindo em direção ao Texas para um final de semana de um jogo de futebol americano quando ligam para uma rádio local para passar um trote para a DJ, Vanita “Stretch” Brock (Caroline Williams). Entre atirar em placas de trânsito, se drogar e fechar o carro dos caipiras, eles acabam se metendo com a família errada, e perseguidos em plena estrada por Leatherface, que corta metade do cocuruto de um deles fora, provocando um acidente, tudo enquanto estão ao vivo no programa de rádio e o ocorrido é gravado em fita K7. Na cena do acidente somos apresentados ao tenente “Lefty” Enright, vivido por Dennis Hopper (segundo ele, no pior filme em que esteve). O texano de chapéu é tio do paralítico Franklin, vítima no original, e passou os últimos 12 anos tentando juntar pistas do assassinato do cadeirante, ligando a outras mortes praticadas por serra elétrica no glorioso estado. Uma dupla improvável entre Stretch e Lefty se forma e ao tocar a fita no seu programa de rádio, ela atrai os psicopatas antropófagos em seu encalço. Stretch consegue ludibriar Leatheface, interpretado por Bill Johnson (onde descobrimos que seu nome é Bubba) fazendo o de trouxa e tratando-o como um cãozinho, e depois segue os meliantes, que mataram seu companheiro de estação, LG (Lou Peryman), até seu esconderijo, com a volta do tresloucado Chop-Top (Bill Moseley) e do patriarca, Drayton (Jim Siedow – único que retorna ao papel). Lefty, munido de três serras elétricas também parte que nem uma vaca louca para o esconderijo na tentativa de salvá-la, vingar seu sobrinho e colocar aquele antro de perversidade abaixo. O que se segue é esteticamente patético. Um dos ápices do nervosismo e da tortura psicológica do primeiro filme, a fatídica cena do jantar, com o vovô mumificado tentando acertar a cabeça da desesperada personagem de Marilyn Burns com um martelo para ser servida de prato principal, foi copiada e transformada em um circo patético de dar pena. Ainda assim, seguindo os passos do antecessor, graças ao excelente trabalho de Savini (principalmente na única cena macabra, quando Stretch encontra LG parcialmente escalpelado), O Massacre da Serra Elétrica 2 foi banido em diversos países, como Reino Unido (onde o BBFC queria cortar 25 minutos da película, o que fez com que a Cannon desistisse de seu lançamento), Alemanha Ocidental, Cingapura e Austrália (que pasmem, só teve a versão uncut lançada VINTE anos depois). Aqui no Brasil lembro claramente do registro eterno em minha memória da fita VHS da América Video (distribuidora dos petardos da Cannon aqui em terras tupiniquins) com seus encartes azuis na prateleira, e aquela pose esdrúxula (a mesma do pôster original) da família Sawyer emulando o cartaz de Clube dos Cinco. Pelo menos, ao inverso do que escrevi sobre Aliens – O Resgate, O Massacre da Serra Elétrica 2 também serve como uma aula de cinema, mas dessa vez sobre tudo o que não deve se fazer em uma sequência para estragar completamente o original. Viu, Seu Tobe Hooper?
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/09/04/514-o-massacre-da-serra-eletrica-2-1986/

Nenhum comentário:

Postar um comentário