Direção: Ted Nicolaou
Roteiro: Ted Nicolaou
Produção: Albert Band;
Debra Bion, Michael Wolf (Produtores Associados); Charles Band (Produtor
Executivo)
Elenco: Diane
Franklin, Gerrit Graham, Mary Woronov, Chad Allen, Jon Gries, Bert Remsen
“Pessoas da Terra, seu planeta está prestes a ser
destruído. Sentimos muito pelo inconveniente”. Claro que esse tipo de diálogo
(que também é a tagline do pôster) só poderia vir de uma típica
podreira trash dos anos 80, produzida por Charles Band em sua Empire
Pictures. Assim, talvez o superlativo grandessíssima
podreira trash se encaixe melhor no caso de A Visão do Terror, dirigido e escrito por Ted Nicolaou. Sabemos que
Band tinha como meta ser uma espécie de Roger Corman dos anos 80, e por isso
suas produções beiravam o limite do mau gosto técnico, dramatúrgico e de
roteiro. Porém há de se tirar o chapéu pela coragem em transformar o próprio
gênero em escracho com produções completamente nonsense. E a Visão do Terror é o caso perfeito disso.
Enquanto os filmes da Empire dividiam-se entre o trash e o splatter interessantes, como o caso
das adaptações de H.P. Lovecraft da dupla Stuart Gordon e Brian Yuzna, outros
eram verdadeiras porcarias que não dá o menor gosto de assistir, como Troll – O Mundo do Espanto. Mas o diretor e roteirista em
nenhum momento leva este daqui a sério e no meio de todo seu escracho
incontido, serve como uma homenagem ao cinema de terror (principalmente
o sci-fi das matinés dos anos 50) e uma crítica também aos exageros
do gênero e dos movimentos culturais da década. Tá, parece um pouco pretensioso
demais pensar em um ensaio sociológico inserido em uma porcaria como A
Visão do Terror, mas para aqueles que querem ver ou além dos efeitos especiais
toscos, os personagens caricatos e a história estapafúrdia, ou além do simples
e pobre cinema B (para aqueles detratores de plantão que nem deveria estar em
um blog como esse), está lá nas entrelinhas. Começa pela estrutura familiar dos
Putterman, a família que acabou de comprar uma antena parabólica e fica vidrada
nas maravilhas da televisão a cabo, e inadvertidamente recebe na transmissão um
monstro espacial que é transformado em energia pura pela estação de tratamento
de lixo de Plutão e enviado para os confins do universo. O casal Stanley
(Gerrit Graham) e Rachel (Mary Woronov) são adeptos do swing, totalmente
liberais e moram em uma casa kitsch de
paredes vermelhas, quadros de pinturas eróticas e um quarto com jacuzzi;
seu filho Sherman (Chad Allen) é um garoto revoltado problemático cujo sonho
é servir o exército e adora brincar com metralhadoras e granadas de
verdade, influenciado pelo Vovô (Bert Remsen) típico republicano armamentista
da era Reagan – que tenta emplacar um negócio de alimentos sustentável baseado
em rabos de lagartixa e sua filha Suzy (Diane Franklin) é uma afetadinha
viciada em MTV (que diz que depois da música e da comida, e televisão é a
invenção mais importante da humanidade) que emula roupas que misturam o visual
de Madonna e Cindy Lauper (mais estereótipo impossível). No rol dos personagens
esquisitos, ainda há espaço para o metaleiro farofa mongol poser, O.D.
(Jon Gries), namorado de Suzy, e a apresentadora do programa de filmes B da
televisão, Medusa (Jennifer Richards), clara sacanagem com Elvira e todas as
suas vertentes. Junte tudo isso a um casal que aparece na casa dos Putterman
para um troca-troca, o grego exagerado Spiro (Alejandro Rey) e a tapada Cherry
(Randi Brooks) e temos a equação completa de “como zoar os anos 80 com
propriedade”. Daí para frente é tudo pretexto para uma grotesca criatura
tosquíssima aparecer da televisão e devorar os personagens com sua garra e
bocarras, derramando litros de gosma verde e outras nojeiras obrigatórias
nos sci-fi trash da época. Momento ímpar do filme é quando os jovens,
únicos sobreviventes da medonha criatura espacial, resolvem, hã, adestra-lo
(até por ele se comportar como um cãozinho monstruoso interplanetário e chegar
até a rosnar). É o cúmulo do exagero ridículo cinematográfico. Mas como o
pastiche impera e ele em nenhum momento tenta se levar a sério, então está tudo
bem. E os efeitos visuais do monstro, são simplesmente sem palavra. É tosco até
dizer chega. E o responsável pelo extraterrestre foi R. Christopher Biggs,
oriundo da equipe de Roger Corman de filmes como Galáxia do Terror e XB: Galáxia Proibida e também tem em sua
filmografia Criaturas, a
quarto e quinta parte de A Hora do Pesadelo e Abominável Criatura, aquela bisonhice baseada na obra do
Lovectaft. Então já viu… Quanto ao momento homenagem que citei lá em cima, um
dos programas sintonizados pela novíssima parabólica dos Putterman é uma sessão
de filmes de terror antigos apresentados pela tal Medusa (chamado “Terrorvision”,
mesmo título do longa, e que tem uma característica música tema da banda The
Fibonaccis) onde são exibidos Robot Monster, O Ataque Vem do Polo e A Invasão dos Discos
Voadores, todos filmecos da época. Deixe de lado todo seu senso crítico e a
necessidade por completa seriedade nos filmes de terror, porque nada disso será
encontrado em A Visão do Terror. É trasheira oitentista da
brava, marca registrada de uma época de exageros e de que quase nada no gênero
era muito levado a sério (para o bem ou para o mal). Caso o faça, você pode
apreciar o filme e ainda pegar as tais críticas sociais que mencionei no texto.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/09/19/526-a-visao-do-terror-1986/
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