Direção: David Cronenberg
Roteiro: David Cronenberg, Charles Edward
Pogue (baseado no conto de George Langelaan)
Produção: Stuart
Cornfeld, Marco Boyman e Kip Ohman (Co-produtores)
Elenco: Jeff Goldblum,
Geena Davis, John Getz
“Tenha medo. Tenha muito medo”. David Croneneberg
eleva as ideais de metamorfose de Kafka ao extremo da repugnância com A Mosca, refilmagem de um filme B dos anos 50 estrelado
por Vincent Price, que no Brasil foi lançado com o nome de A Mosca da Cabeça Branca. Cronenberg sempre foi um
sujeito meio afetado, que em seus outros longas já predizia que os avanços
tecnológicos (Videodrome – A Síndrome do Vídeo), sociais (Calafrios) e
médicos (Os Filhos do Medo) poderiam ter efeitos devastadores sobre as
pessoas. E A Mosca é o resultado supremo do que pode acontecer quando
todos esses elementos se juntam em uma experiência desastrosa. Fiel à premissa
do original, Seth Brundle (Jeff Goldblum, ótimo, por incrível que pareça) é um
brilhante e tímido cientista que inventa algo que irá mudar o modo como
vivemos. Ele cria uma máquina de teletransporte, que batiza de telepod,
capaz de desintegrar as partículas de objetos inanimados e reintegrá-las em
outra cabine. A experiência é acompanhada pela jornalista Veronica “Ronnie”
Qualife (Geena Davis), que resolve documentar o avanço de Brundle e
inexoravelmente transforma-se em seu par amoroso. O próximo passo é tentar
teletransportar seres vivos, algo que consegue com sucesso apenas depois de
virar do avesso vários babuínos durante o processo. Só que nessa equação existe
o cínico e chauvinista editor e ex-namorado de Ronnie, Stathis Boranis. Cronnenberg
sempre deixou muito claro seu fetiche pela carne, e o quanto ela é vulnerável e
mutável. Aqui ele alcança seu apogeu. E escancara isso quando a experiência de
Brundle só consegue obter sucesso quando o cientista programa seu computador
para tornar-se louco pela carne e reproduzí-la por completo, e não apenas
sintetizá-la. Pois bem, certa noite, atacado por uma crise de ciúmes e
bebedeira, Brundle resolve fazer o experimento em si mesmo, após o sucesso com
outro de seus babuínos cobaias. Só que junto com Brundle, em um dos telepods entra
uma mosca. O computador durante o processo realiza uma recombinação genética
entre eles e gradativamente Brundle vai se transformando em um híbrido entre
humano e inseto, o “Brundlemosca”, como o computador batiza. O diretor
canadense nunca teve pudores em mostrar nojeira em seus filmes. Mas em A
Mosca, ele atinge o seu extremo, graças a fantástica maquiagem ganhadora do
Oscar daquele ano e as próteses criadas por Rob Bottin. No começo Brundle
começa a se sentir mais ágil, forte, disposto e as mudanças físicas ficam no
crescimento de repulsivos pelos duros em seu corpo e manchas em seu rosto. Mas
conforme a mutação se acelera, bolhas, pústulas e cancros vão surgindo em sua
pele, enquanto pedaços do corpo que se tornam inúteis como cabelos, unhas,
orelhas e dentes vão caindo gradativamente e “Brundlemosca” vai se
transformando em uma grotesca massa disforme mutante. Tudo complica mais ainda
quando Ronnie descobre que está grávida de Seth e quer desesperadamente abortar
a criança, com medo de que ela tenha alguma característica genética do pai. E a
relação entre os dois é que realmente mostra o quanto A Mosca é uma
história de amor sadicamente deturpada, mesmo com todo seu tom asqueroso. É a
luta de Ronnie tentando de qualquer forma encontrar naquela criatura grotesca o
homem que um dia amou, e a luta de Seth em manter a sua razão em detrimento do
instinto animal de sobrevivência e perpetuação da espécie que vai tomando conta
de seu ser. O final dessa história não poderia ser mais trágico e cativar mais
o espectador, mesmo com toda a repulsa. Um golaço que Cronnenberg sempre marca
é pegar atores canastrões e fazer com que eles façam os papeis surpreendentes.
Foi assim com James Woods em Videodrome e é assim que ele faz com Jeff
Goldblum em A Mosca. A degradação tanto física quanto psicológica do
personagem é simplesmente sensacional. Aos poucos você vê Seth tornando-se cada
vez mais hiperativo, entupindo-se de açúcar e perdendo completamente seu
controle emocional, e graças a alguns tiques nervosos com os olhos e rápidos
movimentos do rosto e membros, sua transformação em uma mosca humana fica
completamente crível. Fato é que nunca você vai sentir ao mesmo tempo tanto
nojo, e tanto dó juntos em um filme, como em A Mosca. Recomendadíssimo!
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/09/10/518-a-mosca-1986/
1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER
743 1986 A MOSCA (The Fly, EUA)
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