sábado, 19 de março de 2016

#518 1986 A MOSCA (The Fly, EUA, Reino Unido, Canadá)


Direção: David Cronenberg
Roteiro: David Cronenberg, Charles Edward Pogue (baseado no conto de George Langelaan)
Produção: Stuart Cornfeld, Marco Boyman e Kip Ohman (Co-produtores)
Elenco: Jeff Goldblum, Geena Davis, John Getz

“Tenha medo. Tenha muito medo”. David Croneneberg eleva as ideais de metamorfose de Kafka ao extremo da repugnância com A Mosca, refilmagem de um filme B dos anos 50 estrelado por Vincent Price, que no Brasil foi lançado com o nome de A Mosca da Cabeça Branca. Cronenberg sempre foi um sujeito meio afetado, que em seus outros longas já predizia que os avanços tecnológicos (Videodrome – A Síndrome do Vídeo), sociais (Calafrios) e médicos (Os Filhos do Medo) poderiam ter efeitos devastadores sobre as pessoas. E A Mosca é o resultado supremo do que pode acontecer quando todos esses elementos se juntam em uma experiência desastrosa. Fiel à premissa do original, Seth Brundle (Jeff Goldblum, ótimo, por incrível que pareça) é um brilhante e tímido cientista que inventa algo que irá mudar o modo como vivemos. Ele cria uma máquina de teletransporte, que batiza de telepod, capaz de desintegrar as partículas de objetos inanimados e reintegrá-las em outra cabine. A experiência é acompanhada pela jornalista Veronica “Ronnie” Qualife (Geena Davis), que resolve documentar o avanço de Brundle e inexoravelmente transforma-se em seu par amoroso. O próximo passo é tentar teletransportar seres vivos, algo que consegue com sucesso apenas depois de virar do avesso vários babuínos durante o processo. Só que nessa equação existe o cínico e chauvinista editor e ex-namorado de Ronnie, Stathis Boranis. Cronnenberg sempre deixou muito claro seu fetiche pela carne, e o quanto ela é vulnerável e mutável. Aqui ele alcança seu apogeu. E escancara isso quando a experiência de Brundle só consegue obter sucesso quando o cientista programa seu computador para tornar-se louco pela carne e reproduzí-la por completo, e não apenas sintetizá-la. Pois bem, certa noite, atacado por uma crise de ciúmes e bebedeira, Brundle resolve fazer o experimento em si mesmo, após o sucesso com outro de seus babuínos cobaias. Só que junto com Brundle, em um dos telepods entra uma mosca. O computador durante o processo realiza uma recombinação genética entre eles e gradativamente Brundle vai se transformando em um híbrido entre humano e inseto, o “Brundlemosca”, como o computador batiza. O diretor canadense nunca teve pudores em mostrar nojeira em seus filmes. Mas em A Mosca, ele atinge o seu extremo, graças a fantástica maquiagem ganhadora do Oscar daquele ano e as próteses criadas por Rob Bottin. No começo Brundle começa a se sentir mais ágil, forte, disposto e as mudanças físicas ficam no crescimento de repulsivos pelos duros em seu corpo e manchas em seu rosto. Mas conforme a mutação se acelera, bolhas, pústulas e cancros vão surgindo em sua pele, enquanto pedaços do corpo que se tornam inúteis como cabelos, unhas, orelhas e dentes vão caindo gradativamente e “Brundlemosca” vai se transformando em uma grotesca massa disforme mutante. Tudo complica mais ainda quando Ronnie descobre que está grávida de Seth e quer desesperadamente abortar a criança, com medo de que ela tenha alguma característica genética do pai. E a relação entre os dois é que realmente mostra o quanto A Mosca é uma história de amor sadicamente deturpada, mesmo com todo seu tom asqueroso. É a luta de Ronnie tentando de qualquer forma encontrar naquela criatura grotesca o homem que um dia amou, e a luta de Seth em manter a sua razão em detrimento do instinto animal de sobrevivência e perpetuação da espécie que vai tomando conta de seu ser. O final dessa história não poderia ser mais trágico e cativar mais o espectador, mesmo com toda a repulsa. Um golaço que Cronnenberg sempre marca é pegar atores canastrões e fazer com que eles façam os papeis surpreendentes. Foi assim com James Woods em Videodrome e é assim que ele faz com Jeff Goldblum em A Mosca. A degradação tanto física quanto psicológica do personagem é simplesmente sensacional. Aos poucos você vê Seth tornando-se cada vez mais hiperativo, entupindo-se de açúcar e perdendo completamente seu controle emocional, e graças a alguns tiques nervosos com os olhos e rápidos movimentos do rosto e membros, sua transformação em uma mosca humana fica completamente crível. Fato é que nunca você vai sentir ao mesmo tempo tanto nojo, e tanto dó juntos em um filme, como em A Mosca. Recomendadíssimo!

FONTE: https://101horrormovies.com/2014/09/10/518-a-mosca-1986/

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743 1986 A MOSCA (The Fly, EUA)

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