Direção: Tibor Takács
Roteiro: Michael Nankin
Produção: John Kemeny; Andras Hamori
(Coprodutor)
Elenco: Stephen
Dorff, Christa Denton, Louis Tripp, Kelly Rowan, Jennifer Irwin, Deborah
Grover, Scot Denton
O Portão é um filme que me gera sentimentos ambíguos. Eu
me lembro de três momentos distintos e três análises sobre a fita durante minha
vida, cada uma das três chegando a uma conclusão diferente. Quando eu o vi
criança, quando nos meus vinte e poucos anos e agora para escrever sua resenha
para o blog. E a conclusão que cheguei é que O Portal é um filme de
terror infantil, quase como uma fábula macabra. Ao vê-lo quando criança tinha
lembranças de que era um filme verdadeiramente assustador. Quase não lembrava
nada do desenrolar da trama, mas gravara na memória que a atmosfera havia me
deixado incomodado, com toda aquela história de um buraco se abrindo no quintal
e sendo um portal do inferno, trazendo criaturas demoníacas para nossa
realidade através de uma espécie de ritual envolvendo antigas inscrições e um
disco de heavy metal. Somente depois de muitos anos eu pude assisti-lo
novamente. O Portão foi um desses filmes que insisti para alugarmos por
ter exatamente essa lembrança de ser bem assustador, e fiz um enorme alarde
sobre a fita. Foi uma decepção sem tamanho vê-lo novamente. Tudo caminhava
exatamente como eu me lembrava, até o portal se abrir e aparecer aqueles
malditos asseclas demônio em stop-motion e a fita escambar para o
tosco, para o ridículo, e juro que não me recordava de ser um filme desse tipo.
Frustração estabelecida, passei a detestá-lo, nunca mais assistindo novamente. Até
que fatidicamente cheguei a sua vez na minha lista esquizofrênica e pensei:
“bom, lá vou eu assistir novamente essa porcaria”. Eis então que agora com 32
anos nas costas, a minha visão do filme mudou drasticamente (de novo). Continua
sendo um filme tosco e aqueles demônios cinza diminutos que parecem ter saído
de algum filme B do Ray Harryhausen são ridículos, mas a visão por trás do
contexto da história (e a expectativa gritante deixada de lado) criou certa
mudança de perspectiva em meu julgamento. O Portão é um filme de terror
infantil e é dessa forma que você tem que encará-lo. O próprio roteirista
Michael Nankin baseou o roteiro em diversas experiências de sua infância e por
isso o filme assusta tanto quando se é um jovem infante. São medos
particularmente infantis, explora a dor da perda, de ter uma irmã mais velha
adolescente, estar sozinho em casa por seus pais terem ido viajar e a eterna
impressão de que algo sinistro ou macabro pode acontecer, misturado com um
buraco aberto em seu quintal que com certeza vai ser o portão para alguma
dimensão maligna (óbvio que você irá pensar isso!). Glen (vivido por um Stephen
Dorff moleque em seu debute no cinema) é um garoto gordinho que gosta de
lançamentos de foguetes de brinquedo e seu melhor amigo inseparável é um
pequeno poser-metaleiro-farofa chamado Terry (Louis Tripp) que perdera a mãe há
pouco tempo e mora com o pai que lhe dá discos de metaaaaaaaal de presente. Os
pais de Glen viajam um final de semana e deixam a casa aos cuidados da irmã
mais velha adolescente, Alexandra (Christa Denton). Mas durante a noite
anterior um raio cai na árvore que fica no quintal, abrindo um buraco no chão.
Ao investigar o buraco, Glen se espeta em uma farpa e deixa cair sangue no
local, de onde saiu um geode. Mais tarde naquela noite em que Terry vai dormir
na casa do amigo (o quão você se lembra da sua infância por conta disso?), eles
abrem o geode que deixa uma bizarra inscrição. Na mesma noite, alguns
acontecimentos sinistros se revelam como Terry ver a aparição de sua mãe morta
e o velho cachorro de Glen, Angus, vir a falecer. No dia seguinte, Terry
descobre no álbum de heavy metal da banda Sacrifice (que existiu de
verdade no Canadá) letras supostamente baseadas em um tal “Livro das Trevas”.
Ele acredita que o buraco é uma porta de entrada para antigos deuses malignos
(olha a inspiração à lá Lovecraft aí). Com o sangue do virgem Glen e mais o
sacrifício de um animal enterrado ali (um dos amigos de Alexandra não conseguiu
nenhum local para enterrar Angus e acabou jogando-o no buraco), a conjuração
está completa e nosso mundo será invadido por criaturas das trevas. É um PUTA
roteiro, a atmosfera até esse momento é incrível e poderia render um filmaço,
se não fossem aquelas entidades demoníacas tosquinhas que estragam todo o clima
e o andar a carruagem. Ainda há espaço para a aparição de um zumbi, o ataque de
um possuído Terry, portais dimensionais que se abrem pela casa, um olho que
surge na palma da mão do garoto (em uma cena MUITO legal até hoje) e no final,
uma criatura gigante também de stop-motion que não ajuda em nada a
melhorar o longa. Uma pena! Detalhe que os criador dos efeitos visuais das
criaturas, Randall William Cook ganharia três Oscar futuramente pelo FX da
trilogia O Senhor dos Anéis. Mas, aí entramos de novo no preceito básico
que por mais que você quisesse que os demônios ou os deuses antigos fossem
diferentes, até com uma pegada mais Lovecraft ou uma coisa mais sinistra que
aqueles tampinhas (que na verdade são atores reais vestidos em uma fantasia de
borracha, filmados com uma perspectiva forçada para parecerem pequeninos) para
dar outro clima ao filme, devemos no ater ao fato de O Portão ser
simplesmente um conto de fadas às avessas. É um filme de terror para crianças
como comentei lá em cima (duas vezes até). E nisso ele funciona perfeitamente
bem. Afinal, quantos de vocês não adorou o filme ou tinha medo do mesmo quando
novinhos? Não é um filme de terror para adolescente ou para adulto (exceto para
ver com os filhos, talvez). E é isso, ponto. Eu não sou mais o público alvo,
você aí do outro lado da telinha do computador também não é. Mas já foi quando
criança. Nem sei se realmente essa era a verdadeira expectativa dos
realizadores porque nunca li nada sobre, ou estou nas elucubrações a mil, mas é
uma forma de encarar a fita ao invés de simplesmente julgá-la tosca
gratuitamente (como muita porcaria produzida por Charles Band, por exemplo)
como eu mesmo já o fiz. Deixe isso de lado, coloque o saudosismo à prova e
aproveite a experiência já que o cinema é uma das poucas chances que você tem
de voltar ao tempo e lembrar-se de outra vida que você teve antes de tudo
tornar-se tão mais sério e realista.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/08/539-o-portao-1987/
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