Direção: Dario Argento
Roteiro: Dario Argento, Franco Ferrini
Produção: Dario Argento, Angelo Iacono (Produtor
Executivo)
Elenco: Jennifer Connely, Daria Nicolodi, Fiore Argento, Federica
Mastroianni, Fiorenza Tessari, Dalila Di Lazzaro
Logo após o início do prólogo de Phenomena, quando
uma turista adolescente perde seu ônibus em uma paisagem erma na Suíça (e antes
de seu fatídico desfecho) surge na tela a preciosa informação que o filme foi
escrito, produzido e dirigido por Dario Argento. E é apenas por esse motivo que
o longe merece algum crédito, pois Argento é Argento. Ao adentrar nos
famigerados anos 80, e tendo deixado para trás lá na década de 70 suas duas
obras primas, Prelúdio Para Matar (uma década antes) e Suspiria, Argento só derrapou. Mesmo citando
que Phenomena é seu
favorito pessoal entre seus trabalhos, é duro de engolir esse exagero
fantasioso que pega as famosas crateras de roteiro das películas do italiano e
elevam a enésima potência numa viagem lisérgica que a maioria das vezes não faz
o menor sentido, não tem a menor coerência e ignora toda e qualquer
continuidade ou lei da física. Mas, por ser escrito, dirigido e produzido por
Argento (como alardeado nos créditos iniciais) é aqui que entra a singularidade
dessa obra, pois mais uma vez, todo o roteiro estrambólico serve apenas como um
raso argumento para o diretor desfilar suas costumeiras cenas de assassinatos
gráficas e carregadas de ultraviolência e sequências belíssimas, planos,
enquadramento, campo, contracampo, luzes, sombra e toda técnica que Argento
domina com esmero, auxiliado pela sempre, única, trilha sonora que escolhe para
suas fitas. A trama (que gentilmente pode ser considerada um samba do crioulo
doido e com um final dos mais inverossímeis e apoteóticos do diretor, quiçá do
cinema italiano – que é expert nessas reviravoltas e descobertas das
identidades dos assassinos, diga-se de passagem) acompanha o infortúnio da
menina que perde o ônibus, vai parar em uma casa teoricamente abandonada (em
uma paisagem belíssima) para se proteger de uma tempestade e zás, é atacada por algo que não
sabemos ainda, e morta, como de praxe, também metendo a cabeça em uma janela e
quebrando seu vidro (se contar quantos filmes do Argento temos a mesma morte,
acabam os dedos da minha mão). Seguimos em frente e somos apresentados a nossa
protagonista, a ninfetíssima Jennifer Connely, com 15 aninhos na época, vivendo
Jennifer Corvino, filha do astro fictício de cinema Paul Corvino, mandada para
uma escola de moças de fino trato na Suíça, coordenada pela Sra. Bruckner
(Daria Nicolidi, nessa altura do campeonato ex de Argento). Fazendo papel da
americana em um internato europeu, tal qual Suspiria, onde as garotas vivem com medo por conta de um assassino
serial estar matando jovens mulheres pelos arredores, Jennifer passa a sofrer
de sonambulismo e sair andando por aí no meio do mato (pensando entrar em
labirintos oníricos) e sendo testemunha de um dos assassinatos. Nessas andanças ela acaba aparecendo na casa do
personagem mais bacana da trama e que nos concede os momentos realmente
interessantes do roteiro, que é o entomologista, Prof. John McGregor,
interpretado pelo veterano do gênero Donald “Sam Loomis” Pleasence. Paraplégico
e tendo como assistente a chimpanzé Inga, McGregor é uma espécie de consultor
nas investigações policiais por conta da sua capacidade em descobrir a data da
morte das vítimas por meio do ciclo de alimentação de larvas e insetos. Deveras
interessante! Bom, a coisa vira motivo de patifaria (ao meu ver) quando Argento
abandona o que poderia ser uma obra de suspense e até um giallo decente quando parte para o
paranormal e mete um estranho poder em Jennifer, capaz de ter uma espécie de
elo telepático com insetos e controlá-los. Então a moça, auxiliada por uma,
pasme, mosca saprófaga detetive, que vai guiá-la ao covil onde os corpos
putrefatos das garotas assassinadas não encontradas pela polícia estão
desovadas, afinal o animal irá ficar irrequieto conforme Jennifer se aproximará
do local, irá desvendar a terrível identidade do assassino.
Para os
próximos dois parágrafos lá vai aquele ALERTA DE SPOILER esperto. Então pule-os ou leia por sua
conta e risco.
A primeira cena que quero salientar aqui no texto é
a morte do Prof. McGregor, assassinado pelo nosso vilão (que ainda não sabemos
quem é) onde sua chimpanzé Inga é testemunha ocular e parte para uma vingança
pessoal pela morte do dono. Sabe como é… A segunda, e que nem vou me adentrar
ao absurdo e todas as falhas enormes que tornam a revelação no mínimo, motivo
de chacota, é quando descobrimos quem é o assassino: “Patau” Bruckner, filho da
Sra. Bruckner, aquela mesma, personagem de Daria Nicolodi, que possui uma
terrível deformação facial (inspirada na disfunção genética conhecida como
Síndrome de Patau). Mais uma vez, Argento mete na tela os desdobramentos
psicopatas de uma infância traumatizada. Bem, então o final do longa depois de
todas as anormalidade reserva o que ele tem de melhor, como o asqueroso
mergulho da pobrezinha Jennifer em uma piscina de dejetos e restos mortais;
quando o garoto deformado assassino é atacado e devorado por um enxame de
insetos chamados telepaticamente pela quase X-Man em uma patética cena em um
barco, onde praticamente o lago todo pega fogo e as cenas subaquáticas da
menina nadando foram claramente filmadas em uma piscina; e a cereja do bolo, o grand
finale, o créme de la créme, quando Inga literalmente
estraçalha a Sra. Bruckner com uma navalha pela morte do dono, entrando para o hall de Argento como uma das
mortes mais violentas de sua filmografia. Dizem as más línguas que a
agressividade e grosseria da cena foi uma forma de Argento extravasar
hipoteticamente toda a raiva que nutria pela agora ex-esposa. Sinistro! Bizarríssimo
ao extremo, Phenomena acerta
em cheio para quem não procura a menor coerência entre as cenas e a história,
mas delira na violência e no gore,
em todo aquele simbolismo místico e maldições intangíveis que parece ter saído
direto da Idade Média, muito presente em suas obras, no apreço detalhista do
diretor na construção de todas as suas cenas, e principalmente na fotografia
que mescla o medo e o pavor da noite com paisagens exuberantes durante a luz do
dia, e claro, pra os fãs de metal. Porque escolhida a dedo, a trilha sonora
(igualmente alardeada nos créditos) além de contar com o músico brasileiro
fetiche do italiano, Claudio Simonetti, tem nada menos que Iron Maiden e
Motörhead, entre outros. Não que faça muito nexo enxertadas em cenas de
suspense e terror, mas como a cabeça de Argento funciona de uma forma muito
particular, está tudo bem.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/08/14/499-phenomena-1985/
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