quinta-feira, 31 de março de 2016

#542 1987 QUANDO CHEGA A ESCURIDÃO (Near Dark, EUA)


Direção: Kathryn Bigelow
Roteiro: Kathryn Bigelow, Eric Red /Produção: Steven-Charles Jaffe; Eric Red (Coprodutor); Mark Allan, Diane Nabatoff (Produtores Associados); Edward S. Feldman, Charles R. Meeker (Produtores Executivos)
Elenco: Adrian Pasdar, Jenny Wright, Lance Henriksen, Bill Paxton, Jenette Goldstein, Tim Thomerson

Mais um daqueles bons filmes de vampiros dos anos 80. Esse é Quando Chega a Escuridão, western horror vampiresco da diretora Kathryn Bigelow, futura senhora James Cameron e futura ganhadora do Oscar. Lançado no ano de 1987, prolífico para os chupadores de sangue, mesmo ano de lançamento de Os Garotos Perdidos, Quando Chega a Escuridão possui razoavelmente a mesma temática de seu irmão dirigido por Joel Schumacher e muito mais conhecido, abordando clãs de vampiros modernos que fazem suas vítimas incautas em pedaços de chão esquecidos dos EUA (nesse caso, no centro oeste americano), deixando completamente para trás todo seu aparato gótico e aristocrático que um dia a criatura já teve sob seus ombros. E mais, mesmo passando por impopular, arrisco-me a dizer que tirando todo o sentimentalismo de lado, o fato de ter assistido quando era criança, a turma de Bill Paxton, Lance Henrikssen e companhia comem com farinha os vampiros liderados por Kiefer Sutherland. Na verdade Quando Chega a Escuridão é superior a Os Garotos Perdidos, afinal vemos dois estilos bastante distintos de cinema, enquanto o primeiro preza pela estilização total dos anos 80 em todos os seus aspectos, e principalmente, na proposta leve e exagerada, a fita de Bigelow escrita por ela e por Eric Red, de A Morte Pede Carona, é um road movie muito mais introspectivo, sentimental, bruto e cruel. Seguimos o infortúnio do jovem Caleb Colton (Adrian Pasdar), que se engraça com uma forasteira, Mae (Jenny Wright), cativante e misteriosa no primeiro momento, mas que é uma sugadora de sangue, e o fato de sabermos isso durante seu papo melancólico, que um matuto como Caleb não entende lhufas, e principalmente durante a forma como reluta em se envolver e na urgência de chegar em casa antes do sol nascer, cria um clima de tensão constante onde parece que o ar pode ser cortado com uma faca de rocambole. Mas a menina transforma o caubói apaixonado em vampiro e depois de quase torrar com a luz do sol, não há outra escapatória senão juntar-se ao bando de vampiros errantes, desajustados e párias da sociedade, que vem a ser a família de Mae. O líder é Jesse Hooker (Henriksen), que profere uma das melhores frases do longa ao ser questionado sobre sua idade (“vamos colocar desta forma: eu lutei pelo sul” – referindo-se a Guerra de Secessão), e é composto pelo sádico alucinado Severen (que seria facilmente um Malkavian se estivéssemos falando do RPG, Vampiro – A Máscara), papel de Paxton, Diamond back (Jenette Goldstein) e a criança (apenas na aparência, claro), Homer (Joshua John Miller). Se você perceber bem, todos eles (com exceção de Joshua Miller) são atores de Aliens – O Resgate, que foi dirigido por? James Cameron, com quem Bigelow casaria dali a dois anos (e separaria depois de outros dois), e indicou-os para o elenco do filme. Michael Biehn também foi considerado para o papel de Henriksen, mas acabou recusando-o. E uma curiosidade é que Johnny Depp e D.B. Sweeney fizeram testes para o protagonista. Voltando à trama, acontece que a personalidade tranquila e pacata de Caleb não condiz com o comportamento errático e psicopata do bando, principalmente no quesito de ter de assassinar seres humanos para se alimentar. O ponto alto, quer dizer, altíssimo, de Quando Chega a Escuridão é exatamente a emblemática cena do bar, onde ausentes de qualquer compaixão, moral e apreço pelo ser humano, que é sua refeição, a gangue trucida o barmen e todos os ali presentes, exatamente para que também sirva como uma prova de fogo para Caleb em tornar-se um deles, mas que acaba falhando, deixando um sobrevivente, que levará a polícia ao encalço dos vampiros. Mas o que vai gerar uma cisma no grupo é quando a sua família, nas figuras de seu pai, Loy (Tim Thomerson) e Sarah (Marcie Leeds) está em perigo. Quando Chega a Escuridão mantém-se em um clima fora da lei seguindo esse bando de assassinos vampirescos da estrada, até seu embate – maniqueísta até demais – final, quando mais uma vez os elementos do faroeste (que era a intenção original de diretora e roteirista, mas como o gênero estava morto naquela década, resolveram pegar exatamente o que estava em voga – o terror – e fazer um mix das duas escolas) se colocam em cena (só faltou um chaparral noturno rolando por ali). Vale também uma menção para a excelente maquiagem, principalmente quando os mortos-vivos estão queimando sob o perigoso efeito do sol, criada por Gordon J. Smith e a trilha sonora eletrônica industrial do grupo Tangerine Dream. O grande problema é a solução canhestra e apressadíssima, dando uma nova teoria sobre o vampirismo, com uma resolução deveras fácil para algo que parecia ser uma maldição secular, eliminando todo e qualquer elemento místico dos seres da noite. Mas que também se percebe ser mais uma questão de escolha do que qualquer outra coisa. Tudo sobre o amor, o bem e o mal, redenção, que congrega para um final bem piegas, mas é o que tem para hoje. Quando Chega a Escuridão fracassou na bilheteria, muito por conta da falta de investimento em marketing da produtora de Dino de Laurentiis que faliria em breve, acabou até tornando-se cult, mas infelizmente não sobreviveu como outros tantos do gênero lançado no mesmo período, Mas uma revisita ao longa é interessantíssimo, tendo em vista a assepsia pela qual o monstro histórico passou na última década, culpa de literatura pré-adolescente de quinta, e como o lado sádico bandido fora-da-lei e Brujah (mais uma vez pegando um clã do RPG como exemplo) rende um baita filme.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/11/542-quando-chega-a-escuridao-1987/

Nenhum comentário:

Postar um comentário